domingo, 8 de julho de 2018

«Gerúndio de pacotilha» - M. E. C.

Ser e Estar e «estar a acrescentar», crónica de sexta, 6, de M. E.C. 

REcortes:
Para falar português como os indígenas [...] Uma das particularidades mais engraçadas é o prolongamento dos verbos através do acrescento de "estar a". Está dentro da regra geral de usar um máximo de vocábulos para ocupar um máximo de tempo porque obviamente no jogo da conversa ganha sempre quem fala mais. [...]
estar a vem da portuguesíssima distinção entre estar e ser que nos deixa dizer: "É pá, tu que és tão jeitoso estás cá um nabo!" ou "ainda não percebi se o Emílio é ou está estúpido".
Quando perguntamos a alguém o que ela faz nunca vamos directamente ao assunto. Ninguém pergunta "Que fazes?" [...] Perguntamos "O que estás a fazer?" por influência do inglês "What are you doing, you stupid idiot?" E daí respondermos "Estou a bordar esta bandeira". Trata-se daquilo que os linguistas conhecem por um gerúndio de pacotilha. Um gerúndio correcto seria, claro, "Estou bordando esta bandeira".
A partir daí arrastamos tudo para o gerúndio como se estivéssemos permanentemente presos a cada acção. Para quê estar a dizer mais sobre este assunto?