[ontem, ao jantar, «ditatorialmente» imposto (no GALH) por General Z., o Princeso contou a discussão que há dias teve, no Café IMP.., com J. L., o «Francês», COMP. de DOUT., que parece que andou a ler Os Maias, e que argumentava a sua inadequação à formação dos Escolares Tugas, alegando que [...]
- recortes de um conhecido texto «político» de Eça, publicado EM 1890, na Revista de Portugal[...]
[…]
A situação é esta.
Uma parte importante da Nação perdeu totalmente a fé (com razão ou sem razão)
no parlamentarismo, e nas classes
governamentais ou burocráticas que o encarnam; e tende, por um impulso que
irresistivelmente a trabalha, a substituí-las por outra coisa, que ela ainda não definiu bem a si
própria. Qual pode ser essa outra coisa? Que soluções se apresentam?
Por um lado, a
República não pode deixar de inquietar o espírito de todos os patriotas. Ela seria
a confusão, a anarquia, a bancarrota. [...]
Por outro lado, uma
“revolução feita de cima”, uma concentração de força na Coroa [...]
concentração, que, apoiada na parte mais inteligente e mais pura das classes
conservadoras, procedesse às grandes reformas que a consciência pública
reclama, não seria compreendida pela Nação irremediavelmente impregnada de
liberalismo e que nessa concentração de força só veria uma restauração do
absolutismo e do poder pessoal.
Que resta no meio
destas duas soluções? Restaria ainda a solução quase milagrosa de que as
classes conservadoras e parlamentares, cônscias enfim dos perigos que as envolvem,
procedessem heroicamente à sua própria depuração e moralização; [...]
Que resta pois?
Resta, como esperança, o sabermos que as nações têm a vida dura, e que o nosso
Portugal tem a vida duríssima. E se os que estão no poder porfiarem sempre em cometer a menor soma humanamente
possível de erros e realizar a maior soma humanamente possível de acertos,
muitos perigos podem ser conjurados e a hora má adiada. O interesse de
quem tem o poder […] está todo e unicamente em acertar. Se não já por dever de consciência e de patriotismo, [...] o
esforço constante de um governo deve ser acertar. Entre nós têm-se visto governos que parecem absurdamente apostados em
errar, errar de propósito, errar sempre, errar em tudo, errar por3frio sistema. Há períodos em que um erro mais ou um erro menos realmente
pouco conta. No momento histórico a que chegamos, porém,
cada erro, por mais pequeno, é um novo golpe de camartelo friamente atirado ao edifício das instituições; [...] [sublinhados acrescentados]
Eça de Queirós, in Revista de Portugal, Abril de 1890, in Eça de Queirós,
Textos Políticos, Centauro (com supressões)
[versão mais completa, universalmente disponibilizada pela Porto Editora - «acolitada» («empobrecida»?) por «Exercício» = Teste - do MAN. «EM» -