- crónica de quinta, de Ferreira Fernandes, na última página do DN - lida à hora do almoço, no «STP»
REcortes:
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REcortes:
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Para as maleitas dos números há um Ministério da Economia
e outro das Finanças - mas não há nenhum Ministério da Gramática. Como estamos
formatados para as coisas das quantias, deixem-me tentar explicar o drama dos
verbos defectivos com um exemplo que o Centeno domina. Um verbo defectivo é
como aquele que me impede, se caio em bancarrota, de dizer: "Eu
falo." Já dizer "nós falimos" ou "vós falis", posso.
Quer dizer, nunca assumo a minha culpa na falência. Para mim, ela é sempre de
outros ou, no mínimo, distribuo a minha culpa por outros.
O verbo falir - que é defectivo, quer dizer, não é conjugado
em determinadas pessoas e tempos verbais - por acaso até é um dos melhores
exemplos para mostrar como a gramática deveria ser tão acarinhada como o
combate à corrupção. [...]
Aqui chegado, decido ser mais radical. Já não quero um
departamento tipo ASAE que cuide das mazelas dos verbos mancos, falhados,
incompletos. Por mim, abulo os verbos defectivos todos. Eles precisam mesmo de
um Ministério da Gramática que prepare a comissão liquidatária. Acabar com
eles: cada buraco de conjugação em determinadas pessoas, tempos e modos verbais
será preenchido pela palavra que vai de si. Millôr Fernandes, mestre das
palavras, não hesitou quando fez uma peça teatral onde falava de computar.
Titulou a obra: "Computa, computar, computa." E, apesar do que dizem
certas gramáticas e gramáticos, aquele verbo passou a ser completo e não
defectivo. [...]
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