- crónica de Tolentino Mendonça, no último «Expresso», termina com referência a Saramago:
RECORTE final:
[...] Ora, esta consciência,
que nos chega pelo espanto, pode-nos chegar também pelo sentimento de fracasso
que, por vezes, nos toma. Na última entrevista do sociólogo Zygmunt Bauman, [..] a dada altura fala-se de José Saramago
como de um mestre admirado. E Bauman refere o significado que teve para ele o
encontro com uma página diarística escrita por Saramago aos 86 anos, em que
este confessa sem filtros o seu falhanço. As intuições a que havia chegado não
pareciam ter influência alguma no curso da história. Por consequência, fazia a
si mesmo (fazia contra si mesmo) uma drástica pergunta: porquê, então, pensar?
A resposta de Saramago iluminou Bauman: nós pensamos porque não conseguimos
evitar, não somos capazes de atravessar o mundo de outra maneira. O pensamento
é um exercício humilde e espontâneo, um facto equivalente ao transpirar.
[sublinhados acrescentados]