sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Mia Couto: «recordação visual e recordação da Voz»

 - Entrevista ao «Ípsilon», sobre o anterior livro, premiado, e o próximo, a sair em Outubro [EXCERTO] - RECORTE:

[...] Enquanto escrevia O Mapeador de Ausências, fui-me apercebendo que era um livro sobre o meu pai e não sobre a cidade onde nasci que era a intenção inicial. Queria fazer uma homenagem à minha terra natal, onde continuo a nascer até agora. E, depois, apercebi-me que esse lugar era o meu pai. É curioso, porque nos registos que tive de consultar, quando escutei a voz dele em gravações antigas, percebi que a presença da voz era muito mais forte do que a presença de uma imagem. A recordação visual é uma coisa, mas a recordação da voz tem um impacto que me fez perceber que, no meu processo de criação, tinha de encontrar a voz dos personagens. [...]
[sublinhados acrescentados]

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Eugénio, 2024 + «A poesia não vai»

 - resolvida a «longa novela» do(s) Espólio(s), pode a Obra seguir o Caminho destinado, mais e mais Leitores...


Do «Ípsilon»; Expo na F. do L. do P. + um dos poemas propostos nos Qd.os:

A POESIA NÃO VAI


A poesia não vai à missa,

não obedece ao sino da paróquia,

prefere atiçar os seus cães

às pernas de deus e dos cobradores

de impostos.

Língua de fogo do não,

caminho estreito

e surdo da abdicação, a poesia

é uma espécie de animal

no escuro recusando a mão

que o chama.

Animal solitário, às vezes

irónico, às vezes amável,

quase sempre paciente e sem piedade.

A poesia adora

andar descalça nas areias do verão.


 Eugénio de Andrade, O sal da língua, 1995

domingo, 4 de agosto de 2024

«um gajo velho, gordo, que escreve sobre comida» + O Caderno (M. E. C.)

a) D. nunca escreveu regularmente; nem nestas Casas - desde 2010, já tarde...;
b) D. é um «permanente leitor»; sabe e, ou, prefere, ser o único Leitor do que nestas Casas escreve - pelo menos desde que «a verdadeira, ausente, SOBR.a, «o arrrasou» nesse Capítulo  - já há muito tempo...
c) M. E. C. publica, não um livro, mas uma «colecção de frases» (Aforismos ou «um outro Livro do Desassossego»?)  num livro sobre «como Escrever para se libertar das regras sobre como Escrever»; 

Andava há anos a fazer apontamentos sobre como escrever?
Desde miúdo.   Tinha um caderno à parte para isso? Sim.

Recorte da Entrevista ao «Ípsilon:
[...]
É a língua que inventou neste livro, a “língua do quero-lá-saber”?
Não me lembro de escrever isso. Editar é uma coisa separada, é como a avaliação. Com o arrazoado cheio de adjectivos, tens uma coisa sobre a qual trabalhar. Sem essa primeira redacção, estás tramada, não há nada. O primeiro passo é escrever. Não interessa o quê, não interessa o tamanho. Não se pode escrever a tentar imaginar um público. O público é que tem de nos encontrar. Isso eu sei. Gostava de escrever para os jovens, dizer aos jovens o que é que devem fazer, o que é que devem ler, mas os jovens não me lêem. Escreves uma coisa, espetas como um jornal de parede e depois há pessoas que gostam e outras que não gostam. As pessoas é que nos procuram. Andam ali e perguntam: há algum gajo velho, gordo, que escreve sobre comida?
[sublinhados acrescentados]