- é pelo Público de hoje, pelo artigo de Lúis M. Queirós, que se chega a vários «LOCAIS»:
- Jornadas, Colóquio e outras coisas, no Porto - «Desimaginar o mundo» - AQUI
- Excertos, recortes do artigo:
A ensaísta [Rosa Maria Martelo] anda há muito às voltas com a “estranheza” desta poesia, a que todos aludem e, [...] pensa hoje que “o que Pina fez foi pegar num tópico da modernidade, a ideia de um sujeito que é um efeito do texto, e colocar esse sujeito a falar na condição de criador, o que provoca no leitor uma estranheza absoluta”. Mas aceitando-se esta perspectiva, argumenta, “tudo o que esse sujeito diz é lógico e consequente”, e é só quando o confundimos com uma posição autoral, ou até biográfica, que se cria uma espécie de nonsense.
Assim, sugere Rosa Maria Martelo, “o ‘eu’ que fala na obra de Pina é propriamente o pronome ‘eu’, um pronome à procura de um nome próprio, de alguém que lhe diga respeito, e só depois de se perceber que na sua poesia é o outro que fala sozinho, e é o outro que anda à procura dele, é que tudo começa a bater certo”.
Voltando ao já referido poema em que Pina diz “chamo-lhe Literatura porque não sei o nome de isto”, Rosa Maria Martelo acha que esse “eu” da poesia de Pina é permutável com o “isto”. Ou seja, “esse ‘isto’ que está cheio de gente a falar tanto pode ser a literatura como esse sujeito da escrita também ele cheio de vozes, apanhado naquela torrente de citações e de coisas lidas”, defende. “É isto que dá a Pina uma posição originalíssima, e creio que mesmo única, na poesia portuguesa”. E se pensa que Pina transformou a herança modernista em algo muito próprio, também não menoriza a presença de Pessoa, lembrando que versos de Pina como “É duro sonhar e ser o sonho,/ falar e ser as palavras!” correspondem a “uma formulação muito pessoana”. E podia acrescentar-se, entre muitos outros, um notável poema do último livro (Como se Desenha Uma Casa, 2011), onde Pina escreve: “Há em todas as coisas uma mais-que-coisa/ fitando- nos como se dissesse: ‘Sou eu’,/ algo que já lá não está ou se perdeu/ antes da coisa, e essa perda é que é a coisa”. Versos que trazem à memória da ensaísta estes outros de um célebre poema de Pessoa, significativamente intitulado Isto: “Tudo o que sonho ou passo,/ O que me falha ou finda,/ É como que um terraço/ Sobre outra coisa ainda./ Essa coisa é que é linda.” [...]