Crónica de domingo, 11 - COMPLETA,
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RECORTE
A língua portuguesa, empertigada e
trabalhadora, só raramente satisfaz o estudante da preguiça. Um bife é rijo
que nem um cabaz de cornos, sendo o cabaz oferecido de graça, quando bastariam
os cornos para dar a ideia.
[…]
Daí
que a minha expressão favorita seja aquela que se recusa a esforçar-se,
que descaradamente desiste de ir a qualquer dicionário mental só para entreter
o ouvinte. Consiste em dizer que o Azevedo gosta mais de praia, tinto, cães,
Paris, dormir, espeleologia, lerpa e macarronete do que..."sei lá o
quê".
X
gostar mais de Y mais do que sei lá o quê é de uma indolência sublime. Está ao baixíssimo nível do
"não há palavras para exprimir" ou, ainda mais humildemente,
"não tenho palavras que possam descrever". Às vezes remata-se com uma
utilíssima ênfase: "enfim, é indescritível!"
"Pois,
imagino...", responde o ouvinte, devidamente adormecido. E subentende-se que deve gostar
tanto que ainda estão por inventar as analogias necessárias. Pois.