Ser e Estar e «estar a acrescentar», crónica de sexta, 6, de M. E.C.
REcortes:
Para falar português como
os indígenas [...] Uma das particularidades mais engraçadas é o
prolongamento dos verbos através do acrescento de "estar a". Está
dentro da regra geral de usar um máximo de vocábulos para ocupar um máximo de
tempo porque obviamente no jogo da conversa ganha sempre quem fala mais. [...]
O estar a vem
da portuguesíssima distinção entre estar e ser que nos deixa dizer: "É pá,
tu que és tão jeitoso estás cá um nabo!" ou "ainda não percebi se o
Emílio é ou está estúpido".
Quando perguntamos a
alguém o que ela faz nunca vamos directamente ao assunto. Ninguém pergunta
"Que fazes?" [...] Perguntamos "O
que estás a fazer?" por influência do inglês "What are you doing,
you stupid idiot?" E daí respondermos "Estou a bordar esta
bandeira". Trata-se daquilo que os linguistas conhecem por um gerúndio de
pacotilha. Um gerúndio correcto seria, claro, "Estou bordando esta
bandeira".
A partir daí
arrastamos tudo para o gerúndio como se estivéssemos permanentemente presos a
cada acção. Para quê estar a dizer mais sobre este assunto?