segunda-feira, 21 de outubro de 2024

«Finisterra», Carlos de Oliveira + 10 poemas lidos por R. M. Martelo

 - não sabe R. há quantos anos Finisterra** aguarda para ser «relido»...; [desde a Década de 80?...]; Rosa M. Martelo, Grande Leitora, fala das «Múltiplas Camadas. e Sobreposições..» do mesmo, no «Poema Ensina a...», em Set. [...];

- no «Podcast», aprox.te a partir do minuto 39.º do I, comenta (e discute com R. M.): [...]; Camões («O Céu, a Terra, o Vento...») ; Cesário («Manhãs Brumosas»), ; Pessanha (...); Campos («Ode Marítima»); e, no II: Luiza Neto Jorge («A magnólia»); Fiama Hasse Pais Brandão ("Quando eu vir vaguear por dentro da casa"); [...]; Mário Cesariny («O navio de espelhos»);Herberto Helder («Sei ás vezes que o corpo é uma severa»); - ** a partir do minuto 44..., de novo fala de Finisterra: «Casa na Duna contada de outro modo»...

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

«Cardume», Inês Lourenço

 - nos poemas da 2.ª parte («Os caules submersos», pp. 27 - 52) do último livro de I. L. são evocados vários poetas - listados na p. 76

CARDUME

As tuas varinas descalças
todas de negro nas descargas de carvão
já não são noivas que ficaram por casar, mas sim
as mães que embalam futuros náufragos
nas canastras, já não os heróis das Descobertas
mas sim os destinados às tormentas
da faina piscatória. Hoje
abjuramos dos usos carboníferos, que o Tempo
tudo esmorece. E nunca vamos 
abjurar do mar que foi há séculos
a nossa Terra Prometida, na fuga possível
à condição hispânica. Mar que ameaça 
no futuro inundar as cidades litorais
se continuar o degelo árctico. Anoitecemos
contigo, Cesário, na nostalgia
desta fronteira incerta de Ocidente.
  
                         Inês Lourenço, Ainda o lugar incerto da procura, 2024, p. 37

segunda-feira, 2 de setembro de 2024

«Virar o Ananás» (M. E. C.)

 - RECORTE(s) da (assertiva?) Crónica de hoje:

[...] agora é moda ir para o engate para os supermercados espanhóis, sinalizando a disponibilidade através de um ananás virado ao contrário, transportado no carrinho como se fosse um pequeno príncipe tropical a fazer o pino. [...]
No mesmo dia, ouvi dizer de alguém que começa a fartar-se do marido, que está à beira de virar o ananás.
[...]
"Virar o ananás" entra assim na língua portuguesa: significa estar farto, mas também significa fazer alguma coisa para alterar a situação.
Para virar o ananás, é preciso uma pessoa levantar-se e decidir que vai reembarcar no carrossel, abrilhantando o aspecto e renovando o vocabulário. [...]
Virar o ananás é regressar à fisicalidade, ao momento, à exposição, ao risco de se ser envergonhado. É voltar aos carrinhos de choque.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Mia Couto: «recordação visual e recordação da Voz»

 - Entrevista ao «Ípsilon», sobre o anterior livro, premiado, e o próximo, a sair em Outubro [EXCERTO] - RECORTE:

[...] Enquanto escrevia O Mapeador de Ausências, fui-me apercebendo que era um livro sobre o meu pai e não sobre a cidade onde nasci que era a intenção inicial. Queria fazer uma homenagem à minha terra natal, onde continuo a nascer até agora. E, depois, apercebi-me que esse lugar era o meu pai. É curioso, porque nos registos que tive de consultar, quando escutei a voz dele em gravações antigas, percebi que a presença da voz era muito mais forte do que a presença de uma imagem. A recordação visual é uma coisa, mas a recordação da voz tem um impacto que me fez perceber que, no meu processo de criação, tinha de encontrar a voz dos personagens. [...]
[sublinhados acrescentados]

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Eugénio, 2024 + «A poesia não vai»

 - resolvida a «longa novela» do(s) Espólio(s), pode a Obra seguir o Caminho destinado, mais e mais Leitores...


Do «Ípsilon»; Expo na F. do L. do P. + um dos poemas propostos nos Qd.os:

A POESIA NÃO VAI


A poesia não vai à missa,

não obedece ao sino da paróquia,

prefere atiçar os seus cães

às pernas de deus e dos cobradores

de impostos.

Língua de fogo do não,

caminho estreito

e surdo da abdicação, a poesia

é uma espécie de animal

no escuro recusando a mão

que o chama.

Animal solitário, às vezes

irónico, às vezes amável,

quase sempre paciente e sem piedade.

A poesia adora

andar descalça nas areias do verão.


 Eugénio de Andrade, O sal da língua, 1995

domingo, 4 de agosto de 2024

«um gajo velho, gordo, que escreve sobre comida» + O Caderno (M. E. C.)

a) D. nunca escreveu regularmente; nem nestas Casas - desde 2010, já tarde...;
b) D. é um «permanente leitor»; sabe e, ou, prefere, ser o único Leitor do que nestas Casas escreve - pelo menos desde que «a verdadeira, ausente, SOBR.a, «o arrrasou» nesse Capítulo  - já há muito tempo...
c) M. E. C. publica, não um livro, mas uma «colecção de frases» (Aforismos ou «um outro Livro do Desassossego»?)  num livro sobre «como Escrever para se libertar das regras sobre como Escrever»; 

Andava há anos a fazer apontamentos sobre como escrever?
Desde miúdo.   Tinha um caderno à parte para isso? Sim.

Recorte da Entrevista ao «Ípsilon:
[...]
É a língua que inventou neste livro, a “língua do quero-lá-saber”?
Não me lembro de escrever isso. Editar é uma coisa separada, é como a avaliação. Com o arrazoado cheio de adjectivos, tens uma coisa sobre a qual trabalhar. Sem essa primeira redacção, estás tramada, não há nada. O primeiro passo é escrever. Não interessa o quê, não interessa o tamanho. Não se pode escrever a tentar imaginar um público. O público é que tem de nos encontrar. Isso eu sei. Gostava de escrever para os jovens, dizer aos jovens o que é que devem fazer, o que é que devem ler, mas os jovens não me lêem. Escreves uma coisa, espetas como um jornal de parede e depois há pessoas que gostam e outras que não gostam. As pessoas é que nos procuram. Andam ali e perguntam: há algum gajo velho, gordo, que escreve sobre comida?
[sublinhados acrescentados]

sexta-feira, 28 de junho de 2024

Camoniana

 - entrevista a Isabel Rio Novo, biógrafa, à «Grande Reportagem», em Junho, 27; escrita de »Os Lusíadas», dilatada no Tempo e no Espaço... 

- [...] «Os Lusíadas são também imagens», Frederico Lourenço a F. José Viegas, a 24-06, no Jornal «SOL»;

- Artigo-Entrevista, a C. M. Bobone, biógrafo,  ao «SOL», a 1 de Julho: «Querer ler de forma virginal Os Lusíadas é entregar-se ao fracasso»;

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Pomar e Fonseca no «724»

TEXTO B 
– Pois é verdade… Isto deu uma grande volta… Aquela raça dos lavradores antigos acabou-se… Os de hoje, se muito têm, mais desejam. Moram nas vilas, põem casa às amantes na cidade, não dão um passo sem ser de automóvel, inventam festas, não há cinemas nem teatros a que faltem. E para um estadão destes é preciso dinheiro e mais dinheiro. Nunca se fartam. […] – Uns tão ricos e outros sem nada… Até devia haver uma lei contra isto. – Haver o quê?!… Estás parva. Pois se os ricos é que fazem as leis!

                 Manuel da Fonseca, Seara de Vento [1.ª edição, 1958], Lisboa, Editorial Caminho, 1984, 12.ª edição, pp. 73-74.

724: «Escolhas múltiplas» para estabelecer uma relação entre as «duas pinturas» (uma plástica, outra verbal) é contribuir para [....] ; [«e o resto não se diz»...]; se Pomar e Fonseca...

- «esta pintura rebenta a tela» - artigo de 2015, do «Observador»  , de antes das ASSS.as

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Campos no «639»

 - afastado, mas não «totalmente», R. destaca, em «tempos camonianos», o poema de Campos, hoje saído no «Grupo B» do 639 [« Máscaras, Espelhos...»]:

Depus a máscara e vi-me ao espelho... 
Era a criança de há quantos anos... 
Não tinha mudado nada... 

É essa a vantagem de saber tirar a máscara. 
É-se sempre a criança, 
O passado que fica, 
A criança. 

Depus a máscara, e tornei a pô-la. 
Assim é melhor. 
Assim sou a máscara. 

E volto à normalidade como a um términus de linha. 

                                    Álvaro de Campos, Poesia, edição de Teresa Rita Lopes, Lisboa, Assírio & Alvim, 2002, p. 514. 

quinta-feira, 13 de junho de 2024

«os Camões de Carneiro»

 - Foto de artigo do «Público-Ípsilon», sobre a exposição e a reabertura da Casa-Oficina do pintor simbolista:

[Auto]Retrato de António Carneiro junto de um estudo para a figura de Camões 
ADRIANO MIRANDA
RECORTE(s):
[...] É aqui que podemos também ver estudos para outra das suas obras mais conhecidas, Camões Lendo ‘Os Lusíadas’ aos Frades de São Domingos (1927), e outras representações do poeta. “Eu bem gostaria de poder mostrar todos os Camões de Carneiro, uma figura com uma importância maior na obra dele”, diz o curador, na expectativa, ainda, de que esse desejo possa vir a materializar-se numa segunda exposição, a decorrer em 2025, e que permitiria igualmente assinalar a importância da sua relação com a literatura [...] [sublinhados acrescentados]

segunda-feira, 10 de junho de 2024

N' A Ilha do Amor (Camões por Helder Macedo)

 - pelos 500 anos, ENTREV.a Helder Macedo, no Ípsilon:“O mal de Camões é que, se ele durasse eternamente, ninguém mais escrevia”

RECORTE(s):

[...] N’A Ilha do Amor — eu chamo-a Ilha do Amor de propósito e não Ilha dos Amores, porque não há muitos; é a Ilha criada pelo amor — há aquele episódio do poeta petrarquista, Leonardo, que vai atrás de uma ninfa a dizer versos queixosos, e os versos são tão bonitos que ela é mais relutante em aceitá-lo, porque está a gostar dos versos. Isto é uma referência implícita a essa situação de usar o petrarquismo; inclusive nessa passagem cita um verso inteiro do Petrarca, em italiano, até que finalmente a ninfa aceita o Leonardo, e “todo se desfaz em puro amor”. É uma transposição no sublime daquilo que era um quotidiano. Estas transposições são extraordinárias. [...]

domingo, 19 de maio de 2024

Sebastianismo Camoniano

 - Luís Afonso,  hoje, no «Público» [começa a formar uma «Série»?]

quinta-feira, 16 de maio de 2024

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Cesária

  - a «Dívida» a Cesário, sempre assumida, desta vez num livro de 38 poemas, tendo Lisboa «e Tejo e tudo» como um dos Motivos centrais; outras Mãos, que buscam outras «Visões de Artista»...;

CESÁRIO VERDE

A maior memória que tenho da infância é amarela
Uma imensa tela nos meus olhos
De acácias altas e frondosas
Invasivas
Como uma aguarela impressionista
Com traços violentos
Salpicados
E um tapete de pequenas flores espalhado pelo chão
Como um pigmento divino que fica gravado na sola da alma
Nas bermas das estradas onde caminhávamos
Juntos
De mãos dadas
É o que tento pintar com as palavras
Com uma paleta oval e muitas tintas misturadas nos meus dedos
Cheios de letras
E tu, Cesário. Dentro.

Ana Paula Jardim, Guerra e Paz, rua do arsenal [2024, Maio], p.28
[OUTRO

quinta-feira, 18 de abril de 2024

«Dicionários, precisa-se» + «sonhar, verbo intransitivo»

 - apelo de M. E. C. na Crónica de hoje - «Uma Ideia Peregrina» - «Os escritores dão pouca despesa» [...]

RECORTE(S):

[...]
Só muito poucas pessoas têm a sorte de ter em casa o Moraes, o Caldas Aulete e o Artur Bivar, só para falar dos três que são mais úteis para quem escreve. São também cada vez mais difíceis de encontrar.
Seria uma bela ideia montar um site onde qualquer pessoa pudesse consultar estes e outros dicionários, como os dois de José Pedro Machado (o Grande e o Etimológico), o Cândido Figueiredo e outros dicionários mais ou menos excêntricos, mas fecundos, que só se encontram em alfarrabistas.
[...]
- e, no poema de hoje de «Revolução já! Poesia Pública», «sonhar, verbo intransitivo», de Francisca Camelo, a Epígrafe, do «acessível» Priberam:

1. Ter um sonho ou sonhos.
2. Fantasiar; devanear.
3. Ter ideia fixa.
4. Cuidar em.
5. Pensar com insistência em.
"sonhar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

-1.ª estrofe:
1.

pedem-me que escreva poemas
sobre revolução
mas hoje acordei triste e
não se fazem revoluções
sem alegria. [...]


sexta-feira, 12 de abril de 2024

«Não digas que vais daqui», M. E. C.

 - crónica de hoje; RECORTE(s):

Foi a nossa amiga Sandra que reparou logo, mal leu a crónica de ontem sobre o "e já vais com sorte", que faltava uma expressão ainda mais portuguesa: o "não digas que vais daqui".
É uma expressão magnífica por ser manca. A cabeça estrangeira, ou desabituada do popular, pergunta logo: "Não digas que vais daqui... com quê... ou semquê?" A elipse é tão grávida que promete trigémeos. Mas a elipse só existe se quisermos.[...] 
A versão comprida, que seria muito mais chata, é: "Acabei de te dar uma coisa que toda a gente quer. Por amor de Deus, não digas a ninguém que fui eu que te dei! Porque senão tenho aí a populaça toda a bater à minha porta, de boca espumante e dedinho tremelicante, a ver se também têm direito a esta voluptuosa benesse" [...]

segunda-feira, 25 de março de 2024

«Tu, o mais abstracto dos pronomes,»; Júdice, Nuno

 EXERCÍCIO DE GRAMÁTICA

Tu, que 
os ventos percorrem
com os lábios
do horizonte,
e uma nuvem estranha cobre
com o lençol amargo 
da madrugada: dá-me
as tuas mãos, agora
que o teu nome se 
demora nos ouvidos da terra;
ou corre por esse rio
subterrâneo que desagua
no fundo
dos espelhos, de onde
nenhuma voz te chama.

Tu, o mais 
abstracto dos pronomes,
vestida com o fogo surdo
da última vogal, como
se uma sombra de silêncios
dançasse por entre
murmúrios e memórias; não
partas com o nascer do dia,
o sonho vago de um desejo,
ou a luz efémera com 
que te olhei.

Fica na tinta dos meus dedos,
resto de um verso, segredo
sem rosto; ou leva-me contigo,
limpo de reflexos e pronomes,
enquanto um rumor de fonte
me ensina a encontrar-te.

Nuno Júdice, O movimento do mundo (1996); transcrito de 50 anos de Poesia - Antologia pessoal, 2022, pp. 82-83

sexta-feira, 22 de março de 2024

Honwana e Ondjaki (60 anos de «cães tinhosos» + «Mãos de pretos»)

- 86-87 a 92, Nova; lembra-se D. de os colegas MOÇ.os comentarem a inclusão da obra de Honwana nos progr.as escolares...; mas não vai agora «inventar pormenores de Memória»...;

- vários artigos, no Ípsilon, sobre «Nós matámos o cão tinhoso»: AQUI; AQUI; ENTREv. a Ondjaki

- muitas vezes, nos Qd.os, propôs sobretudo «As mãos dos pretos» - RECORTE:

[...] O Senhor Antunes da Coca-Cola, que só aparece na vila de vez em quando, quando as coca-colas das cantinas já tenham sido todas vendidas, disse que tudo o que me tinham contado era aldrabice. Claro que não sei se realmente era, mas ele garantiu-me que era. Depois de eu lhe dizer que sim, que era aldrabice, ele contou então o que sabia desta coisa das mãos dos pretos. Assim:
 “Antigamente, há muitos anos, Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, Virgem Maria, São Pedro, muitos outros santos, todos os anjos que nessa altura estavam no céu e algumas pessoas que tinham morrido e ido para o céu, fizeram uma reunião e decidiram fazer pretos. Sabes como? Pegaram em barro, enfiaram-no em moldes usados e para cozer o barro das criaturas levaram-nas para os fornos celestes; como tinham pressa e não houvesse lugar nenhum, ao pé do brasido, penduraram-nas nas chaminés. Fumo, fumo, fumo e aí os tens escurinhos como carvões. E tu agora queres saber porque é que as mãos deles ficaram brancas? Pois então se eles tiveram de se agarrar enquanto o barro deles cozia?!”.
     Depois de contar isto o Senhor Antunes e os outros Senhores que estavam à minha volta desataram a rir, todos satisfeitos.[...]

sábado, 16 de março de 2024

«Roubado a Cesário» - Parrado, Luís Filipe

ROUBADO A CESÁRIO

Mais tarde, pela fresca, fomos todos

roubar ameixas. Em algum momento,

nunca se soube qual,

de tão carregado que estava

um dos troncos cedeu ao peso dos frutos

e tombou por terra. Julguei que esse tinha sido

o ponto alto do dia, com os cestos

a abarrotar, cheios até cima,

mas tu enrolaste o cabelo num novelo

e prendeste-o com um lápis no topo da cabeça,

aparentemente sem te dares conta do que fazias.

Como um rasgão, em surdina,

eu vi a curva perfeita do teu pescoço.

 Luís Filipe Parrado, Museu da angústia natural, 2023, p. 10

terça-feira, 12 de março de 2024

«Os Lusíadas» - 1.ª Edição

 - antiquíssima questão - agora (quase) solucionada pela «teoria de uma Contrafacção posterior? - artigo do Ípsilon:

Um editor do século XVI que fez uma impressão-pirata d’Os Lusíadas
No ano em que começam a comemorar-se os 500 anos do nascimento de Luís de Camões, que não se sabe ao certo quando nasceu, e no dia em que se assinala mais um aniversário da data de publicação d’Os Lusíadas (também ela, na verdade, ignorada), há pelo menos um enigma secular que pode mesmo ter sido resolvido: novos dados parecem indicar de forma concludente que a primeira edição da épica camoniana, saída dos prelos de António Gonçalves em 1572, em Lisboa, foi mesmo objecto de uma contrafacção, produzida poucos anos depois, quando o poeta já tinha morrido. [...]

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

«E agora, José?»

 - «diálogos intertextuais» com o poema de Drummond são inúmeros - realce-se o de Cardoso Pires; no DOC de 98, cerca do min. 30,  AQUI, ou «na página digital» - registe-se outro: 

RECORTE(s):

    E agora, José? Perturba-me, é um desconforto, ver-me ali no que foi a torrezinha feliz da minha juventude e já não é mais que o banal quarto de hotel que um qualquer pode alugar.
    Pouco a pouco deixo-me tomar pela melancolia que vem da perda irremediável das pessoas, dos lugares, das horas de alegria. E agora, José? Repito a pergunta, feita mil vezes desde o dia em que nos verdes anos tinha lido o poema de Drummond de Andrade e ele se me afigurara desesperado, inutilmente triste. «E agora, José? 7 A festa acabou, / a luz apagou, / o povo sumiu... sem cavalo preto / que fuja a galope, / você marcha, José! / José, para onde?»

                                        J. Rentes de  Carvalho, La coca (2011), 2023, p. 197