sábado, 1 de abril de 2017

Gramática («acarinhar a») + verbos defetivos

- crónica de quinta, de Ferreira Fernandes, na última página do DN - lida à hora do almoço, no «STP»

REcortes:
[...]
Para as maleitas dos números há um Ministério da Economia e outro das Finanças - mas não há nenhum Ministério da Gramática. Como estamos formatados para as coisas das quantias, deixem-me tentar explicar o drama dos verbos defectivos com um exemplo que o Centeno domina. Um verbo defectivo é como aquele que me impede, se caio em bancarrota, de dizer: "Eu falo." Já dizer "nós falimos" ou "vós falis", posso. Quer dizer, nunca assumo a minha culpa na falência. Para mim, ela é sempre de outros ou, no mínimo, distribuo a minha culpa por outros.
O verbo falir - que é defectivo, quer dizer, não é conjugado em determinadas pessoas e tempos verbais - por acaso até é um dos melhores exemplos para mostrar como a gramática deveria ser tão acarinhada como o combate à corrupção. [...]
Aqui chegado, decido ser mais radical. Já não quero um departamento tipo ASAE que cuide das mazelas dos verbos mancos, falhados, incompletos. Por mim, abulo os verbos defectivos todos. Eles precisam mesmo de um Ministério da Gramática que prepare a comissão liquidatária. Acabar com eles: cada buraco de conjugação em determinadas pessoas, tempos e modos verbais será preenchido pela palavra que vai de si. Millôr Fernandes, mestre das palavras, não hesitou quando fez uma peça teatral onde falava de computar. Titulou a obra: "Computa, computar, computa." E, apesar do que dizem certas gramáticas e gramáticos, aquele verbo passou a ser completo e não defectivo. [...]

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