quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

«ricardo reis (o magusto de)» Ou «come castanhas, pequena lídia») ; Graça Moura

 - «ressurgido», em releitura...

o magusto de ricardo reis

                  (para o josé blanco)

                 um púcaro com vinho refrescava 
                 sobriamente a sua sede

                                    ricardo reis

" - come castanhas, pequena lídia escrava.
não caces borboletas,  pousa a rede".
isto dizia e enquanto a arreliava
       um púcaro com vinho refrescava 
       sobriamente a sua sede

bucólicos, o vate e lídia, a flava.
aos pósteros, inscrito na parede,
ser tempo de beber se recordava.
       um púcaro com vinho refrescava 
       sobriamente a sua sede

entanto lídia as rosas apanhava,
as fugazes e ledas. e vós vede,
como a colher o dia as desfolhava.
       um púcaro com vinho refrescava 
       sobriamente a sua sede

a vida é um ouriço e em nós se crava
se não soubermos afastá-lo. crede
que lídia só castanhas mordiscava.
       um púcaro com vinho refrescava 
       sobriamente a sua sede

Vasco Graça Moura (1942-2014), Poemas com pessoas, Quetzal, 1997, p. 59

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

«Não é por nada», M. E. C.

- o sempre ambíguo Motivo da «DUPLA NEGATIVA», na crónica de hoje de MEC
RECORTE(S): 
Não é por nada
O fraquinho que os portugueses têm pelas duplas negativas tem o condão de confundir os que aprendem a nossa língua: não será esse um dos objectivos?
[...] As duplas negativas também servem para encobrir mentiras. Uma vez, uma mãe veio ter comigo e disse-me assim: “Não é por nada, mas tem a T-shirt do meu filho colada ao seu pneu da frente.”
Ainda hoje estremeço a lembrar-me da violência e do ódio daquele “não é por nada”. Em que é que ficamos? “Não é por nada” quer dizer que não é nada; que é coisa pouca; ou que é uma coisa importantíssima?
[...]