quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Musa

     [...] Chamam amiúde à mãe a musa do pai. Ao Pai, não chamam a musa da mãe. Ele era homem, ela era uma rapariga, ele era velho, ela era nova, ele procurava, ela foi descoberta, ele viu-a, ela foi vista. Em suma, é isto. Ele criava, ela inspirava. [...]
[...] Designaram quase todas as mães [...] como musas. [...] O pai não se referia às mulheres da sua vida como musas. Creio que ele não usava essa palavra. Referia-se às mulheres como Stradivarius - violinos, instrumentos, mas não como musas.
     Em norueguês, musa (muse) é uma palavra um pouco ridícula, porque não podemos deixar de pensar em rato (musa) e vulva (musa). [...]
                                  
                                           Linn Ullmann, Os inquietos, 2023, pp. 184 - 185

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Manuel António Pina

 - documentário de 2011, «Um sítio onde pousar a cabeça», de Alberto Serra : AQUI; ou na «RTP Play»: AQUI e AQUI

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Títulos

 - excerto em que o título «Os inquietos» é  «filiado» no «Livro do Desassossego»:

[...] Dá muito trabalho começar a movimentar-se todas as manhãs, sobretudo quando se tem 89 anos, e de vez em quando a opção mais óbvia é a de voltar a dormir, ou a de não chegar sequer a acordar. O que é que Pessoa escreve no Livro do Desassossego? Tinha-me levantado cedo e tardava em preparar-me para existir. De vez em quando, antes, Pessoa surgia em conversas enquanto planeávamos o nosso livro - talvez pudéssemos roubar ou dar uma volta ao título de Pessoa, mas é possível que soasse demasiado pretensioso, não deveríamos ter-nos em demasiada conta, é uma arte saber onde está o limite do pretensiosismo, mas funcionava bem como título provisório, talvez encontrássemos outro quando tivéssemos tudo pronto para lançar o livro, mas por aquela altura ele já se tinha esquecido de Pessoa. 

                                                       Linn Ullmann, Os inquietos, 2023, p. 66