sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Gramática [(a Inutilidade do) fruto da] - Nuno Júdice

A INUTILIDADE DA GRAMÁTICA

Tocando o fruto da gramática como se
caísse de maduro, fazia com que a casca
de verbos se descolasse da polpa e via
cair o sumo do pronome sobre o sujeito
da frase que, para ele, tinha o corpo
da amada. Seguira aquele modelo segundo
o qual no princípio era o verbo; mas
o sujeito sobrepunha-se ao verbo, e via
o seu rosto, que a luz da manhã
enchia de cor, sorrir-lhe, como se
aquela sequência de palavras tivesse
outra vida para além da página. Mas
a árvore secara; e quando foi à procura
da raiz no campo estéril da sua memória,
nenhum pronome tinha corpo, e o verbo
que o animara reduzia-se a uma forma
inactiva nos seus dedos manchados de tinta

Nuno Júdice, O fruto da gramática, D. Quixote, 2014 (setembro), p. 26

sábado, 6 de dezembro de 2014

Heteronímia, Pessoa

A) [...] Hoje já não tenho personalidade: quanto em mim haja de humano, eu o dividi entre os autores vários de cuja obra tenho sido o executor. Sou hoje o ponto de reunião de uma pequena humanidade só minha. [...]

[de «rascunho» de carta a Addolfo Casais Monteiro  - DAQUI ]

B) [...]  “os heterónimos são a Totalidade fragmentada” de Pessoa. ("como dizia Eduardo Lourenço")

 - citado em artigo do Público - «Ípsilon» («Pessoa ilimitado», de Hugo Pinto Santos) que referencia obras recentes de ( e sobre) Pessoa - AQUI

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Haver (o «malfadado» Verbo) - A. A.

«Mestre» de Ofício próximo enviou a C. o seguinte «E-mel»:

Eu falo português "de ouvido" e já não me lembro das justificações... Tira-me uma teima que ando a ter com uma data de gente, sff:

Houveram atividades ? ou Houve atividades?
Haverão atividades? ou Haverá atividades?

Qual é a regra?
A. Am.

Lá seguiram dois «verbetes» do «CBDV»:

http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=30893 (Eunice Marta, 03 - 04 - 2012)
http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=30873  (Eunice Marta, 29 - 03 - 2012)

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Fraseária Pessoana, I

[inaugura uma nova secção...]

«[em Campos], o cansaço é uma inércia tornada abstrata»

J. P. 
[quem, ó C?] 
- Disc. do Palácio 1314


sábado, 15 de novembro de 2014

«Gramática Alternativa, II - T. Gersão

       « Terça, oito
      - Não gosto de gramática, grita o Esquilo com raiva. Quero que as pessoas dos verbos morram todas.
       Como matar as pessoas dos verbos? interrogo-me, surpresa, porque nunca me tinha ocorrido essa ideia. Ou como neutralizá-las, pelo menos?
       Vós pode sempre transformar-se em voz - experimento - podem atar-se todos os nós num único nó, ou transformar-se em noz e comer-se, e a eles dir-se-á que se concorda com elas e a elas que se concorda com eles e deixam-se a discutir a concordância da frase até ao Juízo Final, o tu é o mais resistente, o único que talvez faça falta [...]
[...] o eu é de todos o mais instável, quando se chega perto não está lá, transformou-se num leque onde todos os outros se alternam, e se abre e fecha, com os dedos da mão, o eu não existe em si mesmo,  [...]
       "Notas Para Uma Gramática Alternativa", anoto ainda mentalmente e passo adiante, porque agora não tenho tempo de pensar no assunto.»
 
Teolinda Gersão, Os guarda-chuvas cintilantes - Cadernos I - diário, [1.ª ed: 1984], 3.ª ed, Sextante, 2014, p. 75 [truncado]

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

«Gramática Alternativa» - I

«A oração é uma conjunção final»

[e «Astral», provavelmente - sempre se está no Paraíso (na E. do)]

[e ainda se fosse «caso único» ... ]

terça-feira, 28 de outubro de 2014

«Se» apassivante e «se» impessoal

É uma distinção que cria algumas dificuldades a quem (ainda) não esteja «rotinado» nestas «ocorrências» do pronome pessoal «se»

- resposta a consulente do Brasil - no «CBDV» - detalhada, com exemplos e sistematizada, por Pedro Mateus, em 05 - 03 - 2012 (n.º30766) - AQUI

- ver também, na mesma plataforma - resposta de 25 - 10 - 2011 - (n.º 30045) de Miguel Moiteiro Marques - AQUI

domingo, 26 de outubro de 2014

Memorial: «Vaza autorizada»

a releitura do III «cap» levou à «relocalização»  da detalhada resposta (n.º 28508) de Eunice Marta, de 27 - 07 - 2010,   no «CBDV», a pergunta sobre a expressão «Vaza autorizada» -
 AQUI

segunda-feira, 21 de julho de 2014

«Nem por isso», por MEC

[«Pente Fino» - «andar à Roda de Uma Curta...»]

CRónica de hoje de MEC...

Recortes:
Ainda acalento a esperança de vir a perceber a língua portuguesa mas, com cada ano que passa, a esperança queixa-se que está fria.
É coisa que me preocupe? Nem por isso. "Nem por isso": toda a gente sabe o que quer dizer mas qual é o "isso" por que ocorre o "nem"?
[...]
Pergunta-se a alguém se gosta de viver em Portugal e ele responde "nem por isso". Não é bem "não". É "não especialmente". "Especialmente" é tão irritante como "pessoalmente
[...]
Todas estas manobras, com o "nem por isso" à frente, são um assalto brutal sobre a limpeza e a verdade do simples "não". O "sim" e o "não" têm de ser protegidos. São palavras claras, curtas e lindas.
O "nem por isso" é a alforreca das respostas negativas. O que mais enfurece nela é a falta não-absoluta de significância.

Miguel Esteves Cardoso, Público, 20 - 07 - 2014, p. 45 ou AQUI

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Assertivo ou Compromissivo

- referencia-se um dos artigos  relativos à polémica «criada» por  (um exemplo de) Acto Ilocutório,  Assertivo, para uns,   Compromissivo, para outros... -

RECORTE inicial (sublinhados acrescentados):
                Tal como fizemos notar num artigo a propósito do exame nacional de Português do ano passado, também este ano o exame de Português do 12.º, realizado a 18 de Junho, continua a apostar na objectividade dos critérios de classificação. Ironicamente, naquela que é a parte mais objectiva da prova não existe consenso. Uma frase apenas, cuja autoria se tornou subjectiva, foi suficiente para deflagrar uma polémica extraordinária. [...]  
        
[artigo de Joana Meirim e Nuno Amado] - publicado na página 51 do Público de 10 - 07 ou AQUI

terça-feira, 20 de maio de 2014

Predicativo do complemento direto

- como sempre, no «CBDV»
- após exemplificar, a estudante pergunta «se o predicativo do complemento direto faz parte do próprio complemento direto»

- resposta bastante clara, com exemplos, e também com referências  ao predicativo do sujeiro , de Eunice Marta -
n.º 31314, de 04 - 10 - 2012

- da mesma consultora, outro verbete, com idênticas características, sobre o mesmo constituinte e, desta vez, «distinguindo-o» do «atributo» (modificador?)
- o n. 30459, de 10 - 01 - 2012

[ver outros artigos relacionados, listados nos indicados]

quarta-feira, 12 de março de 2014

Campos - Ode Marítima, por Diogo Infante

Diogo Infante dá voz ao poema de Álvaro de Campos, Ode Marítima, em cena [...]
Neste vídeo realizado pelo PÚBLICO, o actor diz um excerto do texto no Cais das Colunas, em Lisboa.

AQUI

sábado, 22 de fevereiro de 2014

«Há mais marés do que marinheiros»

[«Pente Fino» = viagens pelo Campo de uma curta expressão]

Quando, com a elevada frequência que o Contexto exige, S. se «ouve» a dizer o «dito» a «todo e qualquer um» - e também como forma de «se firmar», na resistência possível -  

-  «ouve-se também a ouvir» o PAI VELHO - que o «aplicava»  «a torto e a direito»

- artigo sobre o mesmo, no «CBDV», de 11 de Fevereiro, da consultora Bárbara Nadais Gama (n.º 32400):              AQUI

sábado, 1 de fevereiro de 2014

«O jeito do jeito» - por MEC

[«Pente Fino» = viagens pelo Campo semântico de UMA palavra]

Recorte inicial da crónica de hoje de MEC, na pág. 47, do Público, de 31 - 01 - 2014 ou:                         AQUI

"Gosto de palavras que só nós portugueses usamos e compreendemos, intraduzíveis. Uma das melhores é jeito, no sentido de dar um jeito, no campo específico duma distorsão corporal.
"Jeito" não quer dizer nada para quem não seja português. Mas nós, portugueses, sabemos exactamente o que é dar um jeito. Não é uma entorse. Não é um traumatismo. É um jeito. É ter sujeitado o nosso corpo a uma violência para a qual não foi concebido para suportar.
É um jeito que deixa uma dor. Ontem, durante o almoço, começou a doer-me o pé e tanto a Maria João como eu diagnosticámos logo que eu tinha dado um jeito. [...]

Miguel Esteves Cardoso

(sublinhados acrecentados)

Invocação e Apóstrofe (distinguir)

Parágrafo final do Verbete «Invocação»,  de Vanda Magarreiro, no «E-DTL»
DAQUI 


[sublinhados acrescentados]


      [...] A invocação é uma das figuras de retórica que se prende com o valor afectivo da comunicação e consiste na interpelação de uma divindade através do recurso ao vocativo, às exclamações e às interrogações. Distingue-se da apóstrofe por ser mais do que um simples chamamento directo de seres ausentes ou entidades abstractas. É um pedido de auxílio repleto de carga emocional, sublinhado pelo tom enfático do vocativo. Pode veicular um pedido de ajuda explícito, endereçado a um ser transcendente ou sobrenatural ("Pedi-te a fé, Senhor! pedi-te a graça, / Mas não te curves nunca, pr'a me ouvir./ Tudo acaba no mundo... tudo passa, / Mas só meu mal se foi e torna a vir."(António Nobre, , "Outono")); constituir-se como clamor e prolongamento de uma interjeição ("Voltarei hoje? Ai, minha Nossa Senhora..." (Bernardo Santareno, Nos Mares do Fim do Mundo)); ou introduzir uma mera convocatória ("Vinde à terra do vinho, deuses novos!" (Miguel Torga, Libertação, "Mensagem").

[v. tb. o verbete «Apóstrofe», de Carlos Ceia, na mesma «Plataforma»]

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Modificador do nome

         Nesta «consulta», colocada ao «CBDV», pretendia saber-se se, em exemplos apresentados,   o modificador apositivo do nome é constituinte  do Sujeito e, paralelamente,  o restritivo pertence ao complemento direto.
 
Resposta n.º 32102, de Sandra Duarte Tavares, 02 - 10 - 2013 : AQUI

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Argumento(s) e Exemplos - Como os ordenar

- a «ordem» da colocação de A. e EX... - questão hoje colocada por M. CNZ 
- S. lembrava-se que uma P. a tinha colocado ao «CBDV» - e ficou de a (re) localizar 
- «passam a vida a fugir», os verbetes do «CBDV»

- resposta (n.º 31659)  de Eunice Marta, de 23 - 10 - 2012 : AQUI



domingo, 26 de janeiro de 2014

«Não voltes, Eça»

[ontem, ao jantar, «ditatorialmente» imposto (no GALH) por General Z., o Princeso contou a discussão que há dias teve, no Café IMP..,  com J. L., o «Francês», COMP. de DOUT., que parece que andou a ler Os Maias, e que argumentava a sua inadequação à formação dos Escolares Tugas, alegando que [...]

- recortes de um conhecido texto «político» de Eça, publicado EM 1890, na Revista de Portugal[...]
[…]
A situação é esta. Uma parte importante da Nação perdeu totalmente a fé (com razão ou sem razão) no parlamentarismo, e nas classes governamentais ou burocráticas que o encarnam; e tende, por um impulso que irresistivelmente a trabalha, a substituí-las por outra coisa, que ela ainda não definiu bem a si própria. Qual pode ser essa outra coisa? Que soluções se apresentam?

Por um lado, a República não pode deixar de inquietar o espírito de todos os patriotas. Ela seria a confusão, a anarquia, a bancarrota. [...]

Por outro lado, uma “revolução feita de cima”, uma concentração de força na Coroa [...] concentração, que, apoiada na parte mais inteligente e mais pura das classes conservadoras, procedesse às grandes reformas que a consciência pública reclama, não seria compreendida pela Nação irremediavelmente impregnada de liberalismo e que nessa concentração de força só veria uma restauração do absolutismo e do poder pessoal.

Que resta no meio destas duas soluções? Restaria ainda a solução quase milagrosa de que as classes conservadoras e parlamentares, cônscias enfim dos perigos que as envolvem, procedessem heroicamente à sua própria depuração e moralização; [...]

Que resta pois? Resta, como esperança, o sabermos que as nações têm a vida dura, e que o nosso Portugal tem a vida duríssima. E se os que estão no poder porfiarem sempre em cometer a menor soma humanamente possível de erros e realizar a maior soma humanamente possível de acertos, muitos perigos podem ser conjurados e a hora má adiada. O interesse de quem tem o poder […] está todo e unicamente em acertar. Se não já por dever de consciência e de patriotismo, [...] o esforço constante de um governo deve ser acertar. Entre nós têm-se visto governos que parecem absurdamente apostados em errar, errar de propósito, errar sempre, errar em tudo, errar por3frio sistema. Há períodos em que um erro mais ou um erro menos realmente pouco conta. No momento histórico a que chegamos, porém, cada erro, por mais pequeno, é um novo golpe de camartelo friamente atirado ao edifício das instituições; [...]  [sublinhados acrescentados]
 Um espectador
Eça de Queirós, in Revista de Portugal, Abril de 1890, in Eça de Queirós,
Textos Políticos, Centauro (com supressões)
[versão mais completa, universalmente disponibilizada pela Porto Editora - «acolitada» («empobrecida»?) por «Exercício» = Teste - do MAN. «EM» -

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Lusíadas

          Na RTP, no «portal», em boa hora criado, que reúne conteúdos que só dispersamente «(re)cortados» se encontravam, o programa da série «Grandes Livros», de 2009, dedicado à Epopeia Camoniana, com narração de Diogo Infante e um leque diversificado de depoimentos:
 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014