quarta-feira, 14 de junho de 2017

«...ou lá o que é», por MEC

Crónica de domingo, 11 - COMPLETA,  AQUI
RECORTE
A língua portuguesa, empertigada e trabalhadora, só raramente satisfaz o estudante da preguiça. Um bife é rijo que nem um cabaz de cornos, sendo o cabaz oferecido de graça, quando bastariam os cornos para dar a ideia.
[…]
Daí que a minha expressão favorita seja aquela que se recusa a esforçar-se, que descaradamente desiste de ir a qualquer dicionário mental só para entreter o ouvinte. Consiste em dizer que o Azevedo gosta mais de praia, tinto, cães, Paris, dormir, espeleologia, lerpa e macarronete do que..."sei lá o quê".
X gostar mais de Y mais do que sei lá o quê é de uma indolência sublime. Está ao baixíssimo nível do "não há palavras para exprimir" ou, ainda mais humildemente, "não tenho palavras que possam descrever". Às vezes remata-se com uma utilíssima ênfase: "enfim, é indescritível!"
 "Pois, imagino...", responde o ouvinte, devidamente adormecido. E subentende-se que deve gostar tanto que ainda estão por inventar as analogias necessárias. Pois.