sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Eça, dos 24 anos e não só... + (Maias) «o efeito da Névoa»

- a propósito da «republicação» das reportagens de Eça da Viagem ao Suez, no DN, entrevista a Campos Matos, 91...
RECORTE(s):
[...] É que de toda a gente que lê Os Maias, sou eu o mais assíduo leitor... [...]. Um dos mais belos episódios que mexe com os nervos das pessoas é a célebre visita que o suposto marido da Maria Eduarda faz ao Carlos da Maia, no Ramalhete. O Carlos da Maia já sabe pela carta anónima que o Castro Gomes quer visitá-lo e prepara-se para o receber, e recebe-o. Aquele episódio é uma maravilha. Castro Gomes vem e diz "não venho desafiá-lo, está muito enganado. Aquela mulher que trouxe a Lisboa é uma mulher que eu pago". Carlos da Maia fica para morrer, aquilo é uma bofetada. "Se eu quisesse vir aqui para o desafiar mandava as minhas testemunhas. Não, eu venho aqui simplesmente para lhe dizer que ela não é minha mulher, sequer. Ela hospedou-se no hotel e deixei-a usar o meu nome mas é uma mulher que eu pago e encontrei em Londres", como quem diz é uma putéfia, uma prostituta. Carlos da Maia recebe uma pancada enorme e quando ele sai fica completamente abalado e faz esta reflexão e é a maior importância que se pode atribuir a Os Maias. Ele começa a refletir que tudo aquilo que ele imaginou da Maria Eduarda foi uma névoa romântica que se lhe atravessou diante dos olhos e que o fez ver na Maria Eduarda uma realidade que não correspondia à verdade da Maria Eduarda. Esta reflexão, para mim, é o que há de mais importante no romance. E depois se a gente vir a obra do Eça vamos começar a ver que esta névoa que se atravessa nos olhos das pessoas começa a aparecer em vários livros. [...]