quarta-feira, 11 de agosto de 2021

«O português de granito, de alabastro e de calcário» (galopim de carvalho, António)

 - REcorte da ENTREV. de hoje, pelas 90 PRIMAV.as

[...] Comecei tarde e a escrever mal. Lembro-me do professor Orlando Ribeiro corrigir os meus textos, eu já como assistente, e era uma vergonha. Não fui bom aluno a Português, mas aprendi a escrever português. O português a que chamo o “português do granito”, que era aquele puro do professor Carlos Teixeira, que era sujeito, predicado, complemento directo. Sem arabescos, sem querer ter estilo, puro como o granito. O português de Carlos Teixeira, na simplicidade, firmeza, limpidez e rusticidade da prosa, representa nesta associação o granito. Orlando Ribeiro tinha uma escrita mais poética.

O português de Orlando Ribeiro seria que rocha?
Diria que, se o professor Carlos Teixeira era a prosa do granito, a do professor Orlando Ribeiro, a um tempo erudito, romântico, por vezes algo barroco e sempre poético, representa a prosa do alabastro, uma rocha muito branda, essencialmente formada por gesso, que permite trabalho de grande requinte.

E a sua escrita?
A minha? Não sei. Agora está a pôr-me um problema de geologia! Estou entre os dois. Eu, que bebi a influência de um e outro, ficar-me-ei pelo calcário, pela sua naturalidade e versatilidade.  [...]